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terça-feira, 28 de julho de 2015

Saudade - Pablo Neruda

Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já.
Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida...


Saudade é sentir que existe o que não existe mais.
Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam.
Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.


E esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.
O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido.


(Pablo Neruda)

Se te comparo a um dia de verão...

Se te comparo a um dia de verão
És por certo mais belo e mais ameno
O vento espalha as folhas pelo chão
E o tempo do verão é bem pequeno.


Às vezes brilha o Sol em demasia
Outras vezes desmaia com frieza;
O que é belo declina num só dia,
Na terna mutação da natureza.

 

Mas em ti o verão será eterno,
E a beleza que tens não perderás;
Nem chegarás da morte ao triste inverno:
Nestas linhas com o tempo crescerás.
E enquanto nesta terra houver um ser,
Meus versos vivos te farão viver.


(Shakespeare)

Pedaços... (VI) - Orquídea Colmanara Wildcat "Carmela"

Não quero alguém que morra de amores por mim.
Só preciso de alguém que demonstre em pequenos gestos que gosta de estar ao meu lado.
(Mário Quintana)

Colmanara Wildcat "Carmela"

Tudo em ti era uma ausência que se demorava,
uma despedida pronta a cumprir-se.
(Cecília Meireles)


Lembrai-vos de viver antes de quererdes saber para quê;
e verificareis que, tendo vivido, a pergunta deixa de ter sobre vós o seu peso terrível.
(Sto. Agostinho)


Viver é muito perigoso...
Só que todos vivemos e o perigo nos dá sinais de alerta para vivermos melhor.
(Guimarães Rosa)


Uns sentem a chuva,
outros apenas se molham.
(Bob Dylan)

Pablo Neruda

É proibido não buscar a felicidade...


Não viver sua vida com uma atitude positiva,
Não pensar que podemos ser melhores,


Não sentir que sem você este mundo seria igual.
(Pablo Neruda)

Pedaços... (V) - Ipê roxo

Chega de velhas desculpas e velhas atitudes!
Que o Ano Novo traga vida nova, como rio que sai lavando e levando tudo por onde passa.
(Clarice Lispector)


Viver é isto: ficar se equilibrando, o tempo todo, entre escolhas e consequências.
(Jean-Paul Sartre)


Cada coisa tem sua hora e cada hora o seu cuidado.
(Raquel de Queiroz)


Eu tenho um caso de amor com a vida.
(Robert Frost - citado por Rubem Alvem)


Há um certo gosto em pensar sozinho. 
É ato individual, como nascer o morrer.
(Carlos Drummond de Andrade)


Nas asas do tempo, a tristeza voa.
(La Fontaine)


Pedaços... (IV)

Sofremos demais pelo pouco que nos falta e
alegramo-nos pouco pelo muito que temos.
(Shakespeare)

Mac
 Mesmo quando tudo parece desabar, 
cabe a mim decidir ou lutar,
porque descobri,
no caminho incerto da vida,
que o mais importante é o decidir.
(Cora Coralina)

Sheldon
 Viver é um rasgar-se e remendar-se.
(Guimarães Rosa)

Kiki & Greta
 O correr da vida embrulha tudo.
A vida é assim: 
esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa...
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem.
(Guimarães Rosa)

Desejo a vocês...

Desejo a vocês...
Fruto do mato
Cheiro de jardim
Namoro no portão


Domingo sem chuva
Segunda sem mau humor
Sábado com seu amor.
(Carlos Drummond de Andrade)

Pedaços... (III)

Gostaria de te desejar tantas coisas.
Mas nada seria suficiente.
Então, desejo apenas que você tenha muitos desejos.
Desejos grandes.


E que eles possam te mover a cada minuto, 
ao rumo da sua felicidade!
(Carlos Drummond de Andrade)

Pedaços... (II)

Cada pessoa que passa em nossa vida, 
passa sozinha, 
porque cada pessoa é única e nenhuma substitui a outra.


Cada pessoa que passa em nossa vida passa sozinha,
mas não vai sozinha e nem nos deixará só, 
porque leva um pouco de nós e deixa um pouco de si.


Há os que levam muito e deixam pouco, 
há os que levam pouco e deixam muito.
Essa é a mais bela responsabilidade da nossa vida e a prova de que não nos encontramos por acaso.


Para viver feliz é preciso muito pouco...
um olhar carinhoso...
um sorriso...
um beijo demorado...
uma brincadeira sadia...


Fechei os olhos e pedi um favor ao vento:
leve tudo que for desnecessário.
Ando cansada de bagagens pesadas.
Daqui para frente apenas o que couber no bolso e no coração.
(Cora Coralina)


Um dia de chuva é tão belo como um dia de sol.
Ambos existem cada um como é.
(Fernando Pessoa)


Comece fazendo o que é necessário,
depois o que é possível,
e de repente você estará fazendo o impossível.
(São Francisco de Assis)


Não ande atrás de mim,
talvez eu não queira liderar.
Não ande na minha frente,
talvez eu não queira segui-lo.
Ande ao meu lado,
para podermos caminhar juntos.
(Provérbio Ute)

Pedaços... (I)

Seja você a mudança que tanto procura nos outros.
As pessoas não mudam com cobranças, mudam com exemplos.


A alma sempre sabe o que fazer para se curar. 
O desafio é silenciar a mente.
(Caroline Myss)


A pergunta que todos nós devíamos fazer é: o que foi que fiz se nada mudou?
Deveríamos viver mais incomodados.
O amanhã não existirá se não mudarmos o hoje.
(José Saramago)


Existe no silêncio tão profunda sabedoria que às vezes ele transforma-se na mais perfeita resposta.
(Fernanda Pessoa)

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Eu sei, mas não devia

Eu sei, mas não devia

Marina Colasanti

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.

(1972)

Marina Colasanti
nasceu em Asmara, Etiópia, morou 11 anos na Itália e desde então vive no Brasil. Publicou vários livros de contos, crônicas, poemas e histórias infantis. Recebeu o Prêmio Jabuti com Eu sei mas não devia e também por Rota de Colisão. Dentre outros escreveu E por falar em Amor; Contos de Amor Rasgados; Aqui entre nós, Intimidade Pública, Eu Sozinha, Zooilógico, A Morada do Ser, A nova Mulher, Mulher daqui pra Frente e O leopardo é um animal delicado. Escreve, também, para revistas femininas e constantemente é convidada para cursos e palestras em todo o Brasil. É casada com o escritor e poeta Affonso Romano de Sant'Anna. 

O texto acima foi extraído do livro "Eu sei, mas não devia", Editora Rocco - Rio de Janeiro, 1996, pág. 09.

Só se Pode Ser Feliz Simplificando

Só se Pode Ser Feliz Simplificando

Só se pode ser feliz simplificando, simplificando sempre, arrancando, diminuindo, esmagando, reduzindo; e a inteligência cria em volta de nós um mar imenso de ondas, de espumas, de destroços, no meio do qual somos depois o náufrago que se revolta, que se debate em vão, que não quer desaparecer sem estreitar de encontro ao peito qualquer coisa que anda longe: raio de sol em reflexo de estrelas. E todos os astros moram lá no alto.
Florbela Espanca, in "Diário do Último Ano"

Saber Terminar uma Amizade Indesejável


Saber Terminar uma Amizade Indesejável

   Sucede, também, como por calamidade, que algumas vezes é necessário romper uma amizade: porque passo agora das amizades dos sábios às ligações vulgares. Muitas vezes quando os vícios se revelam num homem, os seus amigos são as suas vítimas como todos os outros: contudo é sobre eles que recai a vergonha. É preciso, pois, desligar-se de tais amizades —, afrouxando o laço pouco a pouco e, como ouvi dizer a Catão, é necessário descoser antes que despedaçar, a menos que se não haja produzido um escândalo de tal modo intolerável, que não fosse nem justo nem honesto, nem mesmo possível, deixar de romper imediatamente. 

Mas se o carácter e os gostos vierem a mudar, o que acontece muitas vezes; se algum dissentimento político separar dois amigos (não falo mais, repito-o, das amizades dos sábios, mas das afeições vulgares), é preciso tomar cuidado em, desfazendo a amizade, não a substituir logo pelo ódio. Nada mais vergonhoso, com efeito, que estar em guerra com aquele que se amou por muito tempo. 

(...) Apliquemo-nos, pois, antes de tudo, em afastar toda a causa de ruptura: se contudo, acontecer alguma, que a amizade pareça antes extinta do que estrangulada. Temamos sobretudo que ela não se transforme em ódio violento, que traz sempre consigo as querelas, as injúrias, os ultrajes. Por nós, suportemos esses ultrajes quanto forem suportáveis e prestemos esta homenagem a uma antiga amizade, de modo que a culpa caiba a quem os faz e não àquele que os sofre. 
Mas o único meio de evitar e prevenir todos os aborrecimentos é não dar a nossa afeição nem muito depressa, nem a pessoas que não são dignas. 


São dignos da nossa amizade aqueles que trazem consigo os meios de se fazer amar. Homens raros! De resto, tudo que é bom é raro e nada é mais difícil do que achar alguma coisa que seja em seu gênero perfeita em tudo. Mas a maior parte dos homens não conhece nada de bom nas coisas humanas senão o que lhes interessa e tratam seus amigos como aos animais, estimando mais aqueles de quem esperam recolher mais proveito. 

Também são eles privados dessa amizade tão bela e tão natural, por si mesma tão desejável; e o seu coração não lhes faz compreender qual é a natureza e a grandeza de tal sentimento. Cada um ama-se a si mesmo, não para exigir prêmio da sua própria ternura, mas porque naturalmente a sua própria pessoa lhe é cara. Se não existe alguma coisa de semelhante na amizade, não se achará nunca um verdadeiro amigo; porque um amigo, é um outro nós mesmos. 


Se se vê nos animais aprisionados ou selvagens, habitantes do ar, da terra ou das águas, primeiro amarem-se a si mesmos (porque este sentimento é inato em toda a criatura), em seguida desejar e procurar seres da sua espécie, para se unir a eles (e, nessa procura mostram um afã e um ardor que não deixa de ser semelhante ao nosso amor), quanto mais essa dupla inclinação na natureza do homem que se ama a si próprio e que busca um outro homem, cuja alma se confunde de tal modo com a sua que de duas não faça mais de que uma. 

Marcus Cícero, in 'Diálogo sobre a Amizade'