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domingo, 27 de julho de 2014

Jardim!


Todo jardim...
começa com uma história de amor...
Antes que qualquer árvore seja plantada
ou um lago construído...
é preciso que eles tenham nascido dentro da alma...
Quem não planta jardim por dentro...
Não planta jardins por fora
e nem passeia por eles...
                                                    Rubem Alves





Sookie e Nina


As pessoas são o que elas amam!
                                                                  Rubem Alves

Rubem Alves

Nina 
É isto que amamos nos outros: o lugar vazio que eles abrem para que ali cresçam as nossas fantasias.
Buscamos, no outro, não a sabedoria do conselho, mas o silêncio da escuta; não a solidez do músculo, mas o colo que acolhe...
Como seria bom se as outras pessoas fossem vazias como o céu, e não tão cheias de palavras, de ordens, de certezas.
Só podemos amar as pessoas que se parecem com o céu, onde podemos fazer voar nossas fantasias como se fossem pipas.
Rubem Alves

domingo, 13 de julho de 2014

Naná


A Naná veio para minha casa no segundo semestre de 1999. Estava eu no pet shop comprando comida e havia uma ninhada de siameses à venda. Eu sempre quis um siamês, e não resisti e comprei um. No mesmo momento entrou um garoto na loja que queria muito um gatinho, e percebi que a mãe ficou sem graça em dizer não porque várias pessoas estavam olhando. Mas ela não queria pagar por um gato. Então, uma senhora que estava por perto disse que tinha uma gata para doação, que ela não poderia ficar porque já tinha 3 adultos, era uma gata muito boazinha que gostava de dormir na cama, com pelagem negra, por isso recebeu o nome de Naná (empregada negra de uma das novelas sobre italianos, talvez Terra Nostra). Percebi que a mulher não queria pegar a gata, mas ficou sem jeito, a criança queria um gato e ela não queria pagar, então não tinha como negar já que estaria ganhando um. Ela pegou por obrigação, para não ficar chato. Na hora, quase falei que ficaria com a gata, mas calei-me, se falasse algo aí sim ela levaria a gata por desaforo. 


Isso foi no sábado. Na segunda feira passando na frente da loja quem eu vejo numa gaiola, a Naná. A mulher devolveu alegando um monte de desculpas. Sabia que faria isto. 
Então eu adotei a Naná. Seu Edson a levou para casa e foi aquele rebu, afinal os outros não gostaram muito de uma cara nova. Ela já estava meio grandinha e foi uma adaptação mais difícil: gatos mais velhos, cachorros... mas tudo deu certo, ela se integrou totalmente.
O que me levou a uma lição: em casa só entra filhotes com menos de 3 meses, o estresse e a adaptação é mais fácil.


A casa tinha um quintal enorme e a Naná sempre fugia para a casa da velha assassina, deixando-me desesperada, ficava sempre no muro chamando por ela, enquanto ela se escondia no mato. 
Para prendê-la dentro de casa outro sufoco. Toda vez que chegava perto para capturá-la ela fugia. Então eu sentava no poço, ficava lendo, olhando a paisagem como quem não quer nada... aí ela vinha se aproximando para um cafuné... até conseguir pegá-la. Era um processo demorado. Qualquer vacilo ela corria pelo quintal e ficava brincando de pega-pega. 


A pelagem perdeu o negro e ficou diferente: o interior ficou branco e o exterior preto, de pelo longo.
Mudanças de casas... fim dos grandes quintais... confinamento... ela ficou mais calma. Na rua Direita, no início, ela tinha o hábito de escalar o portão e ficar na parte da frente de jardim. Mas até isto parou com o tempo. 
Continuou gostando de dormir na cama: ou deitava sobre minhas coxas quando eu tirava um cochilo, ou dormia no vão das pernas. Ou quando gostava de compartilhar o travesseiro com minha cabeça à noite inteira.
Adorava conversar... 
Extremamente carinhosa...
Mas preferia o isolamento dos outros gatos. 


Mas eu ainda cometo meus erros. Não percebi o emagrecimento repentino, não percebi a falta de apetite... e com os gatos o mal vem rápido e galopante, um mínimo erro e é fatal e invariavelmente irreversível. E foi o que aconteceu com ela. 
Faleceu no dia 25 de abril, aos 15 anos, de insuficiência renal. 
Esperou que eu chegasse em casa para dar o último suspiro!

Fernando Pessoa


Esta velha angústia,
Esta angústia que trago há séculos em mim,
Transbordou da vasilha,
Em lágrimas, em grandes imaginações,
Em sonhos em estilo de pesadelo sem terror,
Em grandes emoções súbitas sem sentido nenhum.

Transbordou.
Mal sei como conduzir-me na vida
Com este mal-estar a fazer-me pregas na alma!
Se ao menos endoidecesse deveras!
Mas não: é este estar-entre,
Este quase,
Este poder ser que...,
Isto.

domingo, 1 de junho de 2014

True Detective


Acabei de assistir à mini-série True Detective. Excelente! Com Woody Harrelson e sua cara "amarrada" que está se tornando sua marca registrada, e o irreconhecível Matthew McConaughey, esquece quem o viu em "Como perder um homem em 10 dias", aquele rostinho bonito, fofinho, não existe neste trabalho. Magérrimo, seguindo o rastro de "Clube de compras Dallas" onde perdeu toneladas de peso para interpretar um soropositivo, interpreta um detetive enigmático, soturno, realmente "down"! mas muito bom no que faz!


A série é igualmente sombria ao retratar o lado perverso de algumas pessoas que praticam monstruosidades com crianças, cujos crimes aparentemente passam desapercebidos assim como a identidade deles. O que faz pensar no que acontece com tantas crianças que desaparecem sem deixar pistas... somem... puf! ninguém nunca mais as vê! Na série ainda há um toque satânico, pseudo-religioso por trás das mortes. A paisagem: Louisiana, New Orleans até o Texas que é vizinho, paisagens intocadas, pântanos, plantações - o bom e velho sul norte-americano. Menções ao vodu, ritos religiosos, pastores, população pobre, maioria negra, as mulheres recorrendo à prostituição para sobreviverem. 


A história passa-se em dois tempos, primeiro em 1995, quando um determinado crime chama a atenção pelas particularidades, e se não fossem por alguns detalhes e presenças inesperadas na investigação talvez a investigação não tivesse avançado. Segue para 20 anos depois quando outro crime semelhante acontece e os dois detetives são "convocados" para esclarecer mais detalhes. Na verdade, os dois tempos ocorrem juntos, o interrogatório e os flashs.
Uma história com começo, meio e fim; bons diálogos; estilo nour... sem mais detalhes para quem desejar assistir, para aqueles que gostam do gênero, lógico. Não é para todos! 


Vários personagens mencionam o Rei Amarelo e descobri que existe um livro que serviu de base para a série. Agora estou curiosa, tenho que ler o livro!

Possível baixar os capítulos no http://www.seriesfree.biz/

sábado, 1 de fevereiro de 2014

O esplendor de uma orquídea!


Esta orquídea era um sucesso de cultivo.
É uma "Oncidium cruse".
Quando a comprei já era uma planta formada com flor e com várias mudas. Logo o vaso foi tomado por outras novas.
Depois da mudança de casa ela floresceu exuberantemente.
Mais de 30 pendões de flores.


Devia ter desconfiado que havia algo de errado.
As orquídeas quando sentem que vão morrer ou que sua existência corre risco explode em flores numa tentativa de perpetuar a espécie com a fecundação destas.


Depois da mudança muitas floresceram... e ingenuamente acreditei que elas estavam gostando da nova casa... não me lembrei de uma informação tão importante...



Quando percebi, tarde demais, esta orquídea estava definhando numa velocidade surpreendente, sem explicação...


Outras também... de repente... todas ficaram doentes.
Elas não gostaram da mudança!
Geniosas como são começaram um lento processo autodestrutivo.
Agora só me resta umas duas mudinhas fracas e uma desesperada tentativa de ressuscitá-las!
Porque posso nunca mais encontrar esta espécie!
(fotos : Hercilia P/ Osasco)


Álvaro de Campos/Fernando Pessoa

Em janeiro terminei de ler "Poesia Completa de Álvaro de Campos)" - Fernando Pessoa, Companhia de Bolso.
Não é um dos heterônimos preferidos, mas é possível encontrar a magia de Fernando Pessoa.
Parece loucura, já que Álvaro de Campos realmente não existiu, mas, é perceptível o envelhecimento do poeta dentro da poesia.
Depois de certa idade ele começa a pensar muito na morte, na vida que passou, no que deixou de fazer, na impossibilidade de corrigir erros ou restaurar o passado...
Pensamentos que atualmente andam passeando pela minha cabeça!

Fernando Pessoa/Álvaro de Campos IV

A fraternidade afinal não é uma ideia revolucionária
É uma coisa que a gente aprende pela vida fora, onde tem que tolerar tudo,
E passa a achar graça ao que tem que tolerar,
E acaba quase a chorar de ternura sobre o que tolerou!


Trago dentro do meu coração,
Como num cofre que se não pode fechar de cheio,
Todos os lugares onde estive,
Todos os portos a que cheguei,
Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias,
Ou de tombadilhos, sonhando,
E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero.


Viajei por mais terras do que aquelas em que toquei...
Vi mais paisagens do que aquelas em que pus os olhos...
Experimentei mais sensações do que todas as sensações que senti,
Porque, por mais que sentisse, sempre me faltou que sentir
E a vida sempre me doeu, sempre foi pouco, e eu infeliz.


(...)
E sempre que estou pensando numa coisa, estou pensando noutra.


Toca-me levemente uma saudade no braço
e eu viro-me... e eis no quintal da minha casa antiga
A criança que fui ignorando ao sol quem eu haveria de ser.


No fundo somos todos 
Românticos


Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir.
Sentir tudo de todas as maneiras.
Sentir tudo excessivamente,
porque todas as coisas são, em verdade, excessivas
E toda a realidade é um excesso, uma violência,
Uma alucinação extraordinariamente nítida
Que vivemos todos em comum com a fúria das almas,
O centro para onde tendem as estranhas forças centrífugas
Que são as psiques humanas no seu acordo de sentidos.

(fotos: Hercilia P/ local: jardim da casa)

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Play misty for me (Perversa paixão)


Ontem enquanto estava esperando a energia voltar e com o notebook devidamente carregado assisti a um filme antigo que havia baixado: Perversa paixão (Play misty for me) de 1971. a primeira e única vez que havia assistido a este filme foi no milênio passado, na Globo, quando ela se dignava a passar filmes legendados de madrugada. Depois nunca mais... e num belo dia me lembrei... e será que consigo encontrar na internet? Bingo! Legenda de Portugal(acredito que legendado em 1970, pelas expressões empregadas). Na primeira vez que assisti imediatamente associei com Atração Fatal (1987) com a louca da Glenn Close - uma história repaginada!
Um bonitão se envolve com uma mulher aparentemente sensata, por uma noite apenas e se vê emaranhado com uma psicopata... 
Agora descobri que o filme foi dirigido pelo clint Eastwood, enganando com aquela carinha de bebê e já tinha 41 anos. 
Antes de saber deste fato, durante o filme ficava imaginando quem influenciou na trilha sonora, que por sinal é magnífica (só ela já vale o filme), porque era bem a cara do Eastwood, sei que ele adora jazz, que valoriza bastante a música em seus filmes e até toca (acredito que saxofone), e não é que ele era o responsável!!! 
É um suspense comum toque hichtcockiano (repare nas cenas com facas), e eu gosto de suspenses... mas é um tanto ingênuo, na década de 70 ainda havia passado nas telinhas tantos psicopatas e tantos crimes hediondos...
A paisagem também é linda... praias... penhascos... isolamento... cidade pequena... 
O filme tem as suas falhas, mas os pequenos detalhes compensam!!!  

sábado, 11 de janeiro de 2014

Ripper Street


Gosto das séries britânicas... são inteligentes, bons diálogos e curtas. 
Um exemplo é Ripper Street, ambientada no final do século XIX, no mesmo espaço e tempo que atuou Jack, o Estripador. A série não tem o Estripador como pano de fundo, ele apareceu, matou, sumiu, mas a vida segue e outros crimes precisam ser solucionados, não iriam mais ficar perdendo tempo com ele. 
Mostra uma cidade suja, corrupta, com muita miséria, uma polícia beirando à incapacidade de trabalhar porque não há recursos financeiros.
Os primeiros discursos sobre genética, para explicar as monstruosidades, as primeiras bombas irlandesas, a falta de tecnologia para descobrir a ação de venenos e drogas (o médico legista experimenta em si mesmo uma droga para entender o seu efeito) e até os primeiros homens bombas. Um período em que a prostituição era moralmente condenada mas não um crime, da mesma forma que produzir e distribuir drogas, uma vez que ainda não se conhecia a extensão da devastação provocada numa pessoa e suas consequências.
Como a Inglaterra conseguiu superar tamanha miséria e corrupção? Quem conseguiu??? 

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Mônica Parade


2013 foi o ano da Mônica do Maurício de Sousa. Ela completou 50 anos de publicação e foi um estouro o show de publicações e eventos para comemorar o aniversário da baixinha, dentuça e gorducha!


Gibi em forma de mangá...
Pequenos vídeos... até dos personagens bebês...


Mas... o que marcou mesmo foi o Mônica Parade! 
50 bonecos da Mônica foram distribuídos pela cidade de São Paulo... 50 artistas coloriram e customizaram as estátuas...  


Alguns trabalhos ficaram muito bonitos, repletos de detalhes, incluindo o coelhinho Sansão...
Infelizmente, outros nem tanto.


Eu estava me sentindo frustrada porque não conseguiria ver as estátuas... então a exposição foi finalizada no shopping Eldorado onde consegui vê-las (só não encontrei quatro)... Fiquei encantada com o que vi!


Afinal a Mônica faz parte da minha história... aprendi a ler com os gibis da Mônica e da Disney e estas coisas ficam marcadas para sempre na nossa memória e imaginário!


Ainda tenho um ou outro exemplar (esta minha mania de preservar o passado) mostrando como os traços foram evoluindo, como foram ficando mais rechonchuda.


Atualmente descobri que Maurício de Sousa tem a mesma idade do meu pai, e me pareceu estranho, porque achava ele bem mais velho... Típico... toda criança acha todo adulto muito velho! Mas, ao mesmo tempo é como se não tivesse envelhecido... sempre do mesmo jeito, o mesmo rosto... bem, nunca o encontrei pessoalmente para reparar nos detalhes.


Mas o incrível é como um personagem pode influenciar a tantos e por tanto tempo e ainda se manter atual.


Um dia uma professora estava reclamando da violência nos filmes (o exemplo citado na época foi com Matrix) e que as crianças precisavam ler mais a Turma da Mônica, então percebi uma incoerência de discurso, afinal, Mônica, Cebolinha e Cia não eram personagens tão moralmente estruturados assim... a Mônica é agressiva e bate em todos que a provocam, não leva desaforo para casa; o Cebolinha tem um distúrbio na fala e não recebe tratamento apropriado (hoje os pais seriam chamados pela escola para resolver o problema), sem falar que agride a Mônica verbalmente e quando ataca o coelhinho Sansão (assédio moral); o Cascão não toma banho e isto é aceito como "normal"; a Magali possui o pecado da gula o que também é "aceito como normal" uma criança comer daquele jeito e de forma tão egoísta quando não partilha.
(Os personagens da Disney também não eram diferentes).


Mas, não é uma crítica!
O que quero dizer é que nem por isso tivemos nossas mentes deturpadas por estes conceitos, muito pelo contrário, aprendemos a respeitar os outros, no nosso subconsciente sabíamos que aquelas atitudes não eram corretas, porque nossos pais também eram pessoas moralmente estruturadas. 
O conceito de certo e errado estava em nós!
Ler ou assistir filmes sobre comportamentos mais agressivos talvez funcionem como catarse, não preciso manifestar agressões quando a minha imaginação já trabalhou estes conceitos ao vivenciar na literatura ou cinema...
Não tínhamos o comportamento doentio e deturpado desta nova geração que nada pode, que nada enfrenta, que não consegue controlar situações limítrofes. Uma geração cheia de direitos e nenhum dever, filhos de outra geração igualmente deturpada. Onde tudo é um ofensa, uma agressão.


Personagens como a Mônica e seus amigos sempre deixaram claro que mesmo no meio de tantas brigas a amizade ainda é um vínculo que supera todos os conflitos e diferenças de comportamento. 
No final ser amigo é o mais importante!